Na história de Maria Mulambo, temos duas personagens que dividem suas angústias e ambas tornam-se dependentes psíquicas uma da outra.
A condessa Sophia estava novamente com problemas, por isso chamou a negra Calú. Da primeira vez em que ficara grávida fora do casamento seu socorro viera através da escrava conhecedora de ervas que expulsavam o feto como que por encanto.
Desta vez o assunto era ainda mais sério, estava grávida de um negro, como explicar ao conde, louro de olhos azuis e pele alvíssima, um filho que, certamente, nasceria mulato? Calú entrou cabisbaixa nos aposentos da condessa e foi informada que deveria novamente proceder como há quatro meses. A escrava ficou boquiaberta:
– Senhora, como deixou isso acontecer novamente em tão pouco tempo? É muito perigoso provocar sangramento quase seguido!
– Foi calada por um violento tapa
– Como ousa julgar os atos de sua senhora, negrinha vagabunda? Eu te chamei para fazer o seu serviço e é isso que deve fazer. Vá buscar as o que necessitas e volte imediatamente com tudo pronto ou mandarei te surrar até que morras!
Desorientada pela agressão, Calú embrenhou-se na mata para procurar as ervas que conhecia tão bem. Seu rosto ainda queimava pela agressão e também pelo ódio que invadia seu coração. Ela que sempre fora fiel, facilitara os encontros clandestinos da condessa em várias ocasiões, e não foram poucas, causara-lhe o primeiro aborto e nem um obrigado tivera ainda tinha que apanhar? Vagabunda era ela, que se vestia com capricho, perfumava-se e fazia o papel da esposa perfeita ao lado do conde e ao menor afastamento deste, deitava-se em qualquer lugar com qualquer um. E depois ela é quem tinha que virar-se para dar um fim aos bastardinhos?
Hoje iria a forra, seria o seu dia de vitória. Apanhou ervas que em nada serviriam para o aborto proposto. Fez uma mistura que após a infusão levaria a mulher à morte em pouco tempo. Aí sim ficaria contente, ver aquele poço de vaidade e devassidão morrendo lentamente pelas suas mãos. Entrou no quarto e a condessa encontrava-se deitada.
– Já está pronto o remedinho minha querida?
– Além de tudo era cínica
– Sim senhora, preparei uma grande caneca e hoje mesmo estará livre do seu mal.
– Ah que bom! Desculpe sim? Se perdi a paciência com você, mas não gosto que me ponham contra a parede.
– Calú lançou-lhe um olhar furtivo
– Não foi nada, já esqueci! Tome o chá e fique deitada. Em poucos minutos a mulher começou a sentir dores insuportáveis.
– Calú esse não é o mesmo chá? Estou com dores horrorosas!
– É assim mesmo, senhora, faz muito pouco tempo do outro acidente. Intimamente a escrava alegrava-se ao ver o sofrimento da condessa.
– Calú, estou morrendo!
– A negra subiu sobre a cama e falou:
– Isso mesmo, condessinha vagabunda, estou livrando o mundo de uma podridão. Morra infeliz! A porta se abre e uma escrava ouve as últimas palavras, sai correndo e gritando pela enorme mansão:
– A Calú está matando a condessa! Em poucos minutos o chefe da guarda, invade o quarto e vê a cena, a condessa morta sobre a cama e a escrava rindo histericamente ao lado.
Porque Maria Mulambo?
Um golpe certeiro de sua espada corta o pescoço da mulher, a cabeça de Calú cai sobre o corpo inerte de sua vitima.
Depois de muito vagarem por tortuosos caminhos inferiores, os espíritos de ambas, encontraram-se em uma lei de esquerda.
Na linha de Maria Mulambo, conseguiram o fio condutor de uma lenta e necessária evolução. Este é um dos raros casos em que dois espíritos ligados pelo ódio em terra, uniram-se para a evolução sob a mesma lei.
Sophia hoje atende por Maria Mulambo das Sete Catacumbas e Calú, por Maria Mulambo das Almas.
Laroiê as Pomba-giras!