Os filhos de Umbanda recebem as entidades de Luz que trabalham na seara da caridade com a denominação de Pretos-Velhos, em referência àqueles que já passaram por seus cativeiros, por suas lutas, por suas provas, e através dessas adquiriram humildade e sabedoria para vir nos ensinar o verdadeiro sentido da palavra fé, e nos mostrar de que forma podemos atravessar os obstáculos que a vida nos impõe.
Os espíritos que atuam nessa falange, quando incorporam em seus médiuns, trazem a fala pausada, a paciência de repetir seus ensinamentos, em harmonia como o título que recebem daqueles que com eles se consultam: Vovô ou Vovó.
Andam encurvados, apoiando-se em suas bengalas sempre feitas de galhos de árvores, como guiné, e preferem sentar em troncos ou em seus bancos de madeira, sempre feitos de forma rústica, sem demonstrar qualquer luxo, pelo contrário, são exemplos maiores de humildade e trabalho na caridade em nome de Jesus.
Fumam seus cachimbos, ou mesmo charutos, podendo usar chapéu ou, no caso das Pretas-Velhas, seu lenço de cabeça. Muitos usam suas contas feitas de lágrima de Nossa Senhora, terços ou rosários, nas quais colocam elementos de sua mironga, úteis na reza dos filhos que assistem. Em muitos casos, usam uma cruz de guiné.
Trazem em sua bagagem muitos séculos de experiência, de vidas passadas, do caminho que levaram até alcançarem à Aruanda. E, com sua fala mansa e muita serenidade, escutam com paciência os que a ele procuram, sem considerar credo, raça, idade ou sexo do consulente.
Ao contrário do que a maioria das pessoas acredita nem todo Preto-Velho foi escravo. Muitos viveram suas encarnações muito antes desse período da história da humanidade. Muitos alcançaram seu posto de entidade de Umbanda desde muitos séculos atrás. Foram filósofos, médicos, ricos, pobres. Quando um Preto-Velho fala de seu cativeiro, de sua escravidão, não necessariamente corresponde este à escravidão no Brasil. Muitas vezes, essa escravidão ou cativeiro se deu mesmo em outros planos espirituais e o Preto-Velho fala deles como uma forma de trazer ao filho o exemplo de suas lutas e dificuldades para alcançar sua luz.
Por tudo isso é que a Umbanda homenageia os Pretos-Velhos no dia 13 de maio, dia da Libertação dos Escravos.
Os Preto-Velhos não realizam milagres, não são oráculos para sabermos nosso futuro. Sua linha de trabalho reside em ouvir com atenção a quem lhe procura, fazer com que o filho relate suas dificuldades, e mostrando a esse filho o que precisa ser mudado em seu comportamento para que o problema se resolva. Utiliza suas mirongas e rezas para afastar obsessores e quebrar feitiços, mas não realiza milagres. É necessário que aquele que procura a ajuda de um Preto-Velho saiba que não vai ser realizada nenhuma mágica, mas sim que é necessário que o filho tenha fé, tenha o coração aberto, que acredite em Deus e na Sua força para que resolva seus problemas.
Por isso mesmo, a atuação de um Preto-Velho é a de um conselheiro que procuramos para nos auxiliar na mudança de comportamento. São verdadeiros psicólogos da alma; a quem confiamos nossos segredos que não diríamos a nenhuma outra pessoa de nosso convívio. Revelam-se amigos, mas não se engane: um Preto-Velho jamais poderá ser enganado, porque ele vê não só aquilo que dizemos a ele, ele olha em nosso espírito e percebe os vícios e defeitos que ainda necessitamos deixar para trás para alcançarmos nossa evolução.
Seu trabalho consiste em ajudar nossa mudança interna, utilizando também, quando necessário, banhos de descarrego, banhos de energização, ou mesmo pontos riscados e pontos de fogo, amparado muitas vezes pelo trabalho de exus para desfazer trabalhos de magia no combate às forças negativas.
Dessa forma, ao procurar os conselhos de nossos Pais-Velhos, dispa-se de sua posição social, de sua vaidade, de sua sabedoria, e tenha em mente que ali se encontra um espírito que alcançou um plano evolutivo capaz de perceber aquilo que necessitamos para nossa reforma íntima. Tenha em mente que devemos nos abaixar ou nos ajoelharmos a sua frente para que sejamos envolvidos e encobertos por sua luz e bençãos. Tome sua benção de coração aberto, orando a Deus, aos Orixás e a Jesus Cristo para que sejamos merecedores e aptos a alcançarmos as graças divinas pelas mãos desse trabalhador humilde e sábio de nossa querida Umbanda.