Não posso dizer ao certo quando surgiu o Ritual de Amaci na Tenda, mas sabe-se muito bem a sua finalidade e sua importância desde que foi trazido pelo espírito de Pai Antônio sob ordens de Orixá Mallet. No Candomblé, existe um ritual homônimo que utiliza a lavagem de cabeça com ervas, porém bem distinto deste praticado na Umbanda e que descreverei de maneira simples e objetiva nesta postagem, com o intuito de mostrar como funcionam alguns ritos na Umbanda trazida pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas.
O seu objetivo é basicamente , com a lavagem de cabeça, limpar o campo energético do médium para a melhor aproximação de energias dos espíritos mais elevados da Umbanda.
Para os consulentes, é uma boa oportunidade para limpar o campo energético do corpo e trazer fluidos melhores ; estes podem participar desde que vestidos com roupa branca e em preceito, o que nos leva a concluir que este ritual tem por objetivo maior anular e neutralizar fluidos danosos de quem assim desejar, agindo de maneira mais indireta na mediunidade dos indivíduos.
A sessão de Amaci só é feita depois do ritual de Fitas de Orixá Mallet, pois é energeticamente dependente deste – em outra oportunidade descreverei a consistência deste rito também muito importante.
O Ritual de Amaci
A lavagem da cabeça dos médiuns é feita sobre uma cama de folhas de mangueira, elas tem a função de descarga, de atrair energias negativas do campo energético do corpo.
As folhas são colhidas por médiuns homens escolhidos pela entidade dirigente da sessão já na sessão de Fitas; neste grupo deve estar presente pelo menos um “Cambone” ( membro responsável pela organização material da Tenda, bem como a manutenção da ordem e da disciplina durante as sessões ) para supervisionar os médiuns na manutenção da concentração, enquanto as mulheres preparam e limpam a Tenda com água e sal grosso.
Durante todo o processo de colheita das folhas até a montagem da cama é entoado o ponto específico para o ritual:
“Mangueira, mangueira
mangueira de Umbanda
folha por folha Umbanda
Lá no mato tem Umbanda
vamos cruzar
Para salvar
filhos de Umbanda com seu patuá”
Depois de colhidas, as folhas são levadas pra tenda onde são selecionadas, ou seja , são utilizadas somente as folhas inteiras e sem manchas e com elas é montada a cama no meio do salão. São riscados os pontos das seis linhas de Umbanda em frente ao gongá por seis babás da casa ( escolhidos pela entidade dirigente dos trabalhos ), seguidos dos pontos riscados de exu correspondes a cada uma das seis linhas.
Feito isso, o guia chefe recebe todos os médiuns e pessoas que desejam participar do ritual, que são orientados a mentalizar pedidos de bons agouros e boa ventura desde a colheita de sua folha até o momento em que o guia dirigente dos trabalhos irá recebê-la para picá-la em pequenos pedaços ( folhas estas de qualquer espécie,com exceção de folhas com espinhos, comigo-ninguém-pode e folha de mangueira). Estas folhas são picadas junto à uma bacia de ágata de cor branca num banho que é composto por todas as bebidas usadas na casa, dentre elas as bebidas correspondentes às sete linhas.
Em ordem de tempo de casa, os membros da Tenda vão deitando na cama de folhas para a lavagem da cabeça pelo guia chefe que de acordo com a necessidade, vai pedindo o ponto cantado específico de cada Linha ou entidade, que geralmente se manifestam assim que o médium se levanta.
As folhas são descarregadas em um rio e as pessoas que participaram do rito, por questões fluídicas, devem permanecer por pelo menos 3 dias com o banho na cabeça, ou então podem lavá-las em uma cachoeira com o guia chefe da casa.
Terminada a lavagem, é feita a queima da pólvora que cobre os pontos riscados de ligação e dos comandantes das respectivas falanges de Exu pelos mesmos Babás escolhidos anteriormente pela cabeceira da mesa de Umbanda ( pontos riscados das seis linhas ), que depois de acesos são limpos com aguardente e água, após isso são levantados todos os pontos da mesa de Umbanda fazendo a limpeza com as suas respectivas bebidas dispostas nos pontos durante toda a sessão, é feita a prece de encerramento e o hino de Umbanda encerrando assim as atividades da casa depois de 3 dias seguidos de sessão.
Na Tenda Espírita Nossa S. da Piedade, na Cabana de Pai Antônio, tive a oportunidade de participar do ritual de Amaci em 2001 com a Dona Zilméia incorporada com a preta-velha Tiana e o Caboclo Branca Lua no comando dos trabalhos mediúnicos. Os médiuns, logo depois da lavagem de cabeça formam uma fila em direção ao rio Macacu, para o banho numa queda d’água que fica no mesmo terreno, encerrando de maneira belíssima os trabalhos do dia.